Doador de órgãos transmite câncer para quatro receptores
Exames realizados no doador não constataram a presença de nenhum tumor maligno
Um acontecimento inédito na medicina deixou médicos do mundo inteiro em alerta. Em um artigo, publicado no American Journal of Transplantation, uma equipe do Centro Médico Acadêmico, na Holanda, relatou o caso de um doador de órgãos que transmitiu câncer para quatro receptores.
A história começou em 2007, quando uma pessoa de 53 anos morreu vítima de AVC (Acidente Vascular Cerebral) e teve seus rins, pulmões, fígado e coração doados para pessoas compatíveis.
Antes de submeter cada receptor ao transplante, a saúde do doador foi totalmente checada com exames físicos e laboratoriais, onde não foi constatada nenhuma presença de tumores malignos.
No entanto, meses depois dos transplantes, quatro pessoas foram diagnosticadas com câncer. Três dos quatro receptores morreram após a propagação da doença, de acordo com o relatório.
Em agosto de 2008, 17 meses depois do transplante, o receptor de pulmão duplo, uma mulher de 42 anos, começou a apresentar disfunção de transplante, e os exames hospitalares revelaram que ela tinha tumores no tecido epitelial, que acabou se espalhando para outras partes. A paciente morreu em 2009, com testes indicando células de câncer de mama que foram derivadas do doador.
Após sua morte, os médicos consultaram a receptora do rim esquerdo, que tinha 62 anos quando recebeu o órgão. Os testes iniciais não indicaram que ela tinha câncer, porém cinco anos depois ela adoeceu, com testes revelando que o câncer transmitido pelo doador se espalhou por seu rim e outros órgãos. Apenas dois meses depois da descoberta do câncer, a mulher faleceu.
Em outro caso, uma mulher de 59 anos que recebeu um fígado foi diagnosticada com câncer no órgão, mas se recusou a retirá-lo por medo de complicações, no entanto ela morreu 7 anos depois do transplante.
O paciente restante sobreviveu depois dos médicos removeram o rim que ele havia recebido. Além disso, o homem de 32 anos precisou ser submetido a quimioterapia.
Os autores do estudo ainda não conseguiram entender como isso pode ter acontecido, mas supões que as drogas imunossupressoras, que ajuda na adaptação do novo órgão, podem ter facilitado a progressão de vestígios de câncer indetectáveis que vieram no transplante.
Considerado um evento raro, estima-se que as chances de se contrair um câncer de um doador fique entre 0,01% e 0,005%. De qualquer forma, isso serve de alerta para equipes de transplantes.
O que é a doação de órgãos?
A doação de órgãos é uma prática que pode salvar a vida de muitas pessoas que estão na fila por um transplante. No entanto, no Brasil ainda existe pouca adesão de doadores, o que dificulta a realização de transplantes.
O médico gastroenterologista do Grupo de Transplantes da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, Wangles Soler, lembra que para o processo de doação ter início, o doador deve ter tido morte encefálica, o que representa entre 5% e 10% das mortes. Porém, apenas um em cada cinco casos são notificados, reduzindo-se ainda mais as chances de se encontrar um doador.
Por Minha Vida